No pais chamado Tropicália existe um paraíso onde tudo se completa pela ação unitária da natureza. Onde o equilíbrio, sempre buscado pela humanidade, se apresenta aos olhos fotográficos, de forma viva e constante. Pela lei do equilíbrio natural, neste paraíso, a fauna e a flora perpetuam-se, mas, pela presença humana, os animais sofrem da doença secular denominada extinção. Por mais ferozes que sejam, os pobres animais são devorados. O mesmo acontece com a vegetação. As árvores gritam como crianças indefesas, apesar de serem gigantescas e fortes. A força metálica dos motores é superior e imbatível.
No Tropicália, a vida é muito boa para os visitantes, turistas portadores de dólar, uma moeda que chegou, circulou e dominou o sistema econômico. Para estrangeiros nesse pais o paraíso é uma realidade, porque o poder aquisitivo deles é mais do que suficiente para brincarem com o custo de vida dos habitantes do Tropicália, na condição de inferiores, humilhados e reduzidos à miséria. Todavia, parece que a felicidade está para chegar ao Tropicália. A seleção de futebol daquele pais, que há muitos anos não satisfazia seu público, voltou a alegrar seus habitantes, realizando espetáculos como nos velhos tempos em que foi a única honraria de ser um tropicaliano, "pais do futebol"...
As estatísticas revelam que o Tropicália nunca esteve fora de uma Copa do Mundo de Futebol. Naturalmente, como tudo que é importado vale mais e "pega", os ingleses trouxeram a bola como matéria-prima e, pegou.( Afinal de contas estamos falando de um pais cuja força da imigração é a razão de sua existência.)
Naquele tempo jogar bola era uma arte negra. Descia o morro com a bola no pé o negrinho de vocação. Hoje, negros, brancos e amarelos formam a seleção de futebol do Tropicália. Diziam antigos preconceituosos que os pequeninos dos morros tornavam-se craques de futebol ou assaltantes, como opção de vida, tendo em vista que os tempos sempre foram difíceis para pessoas de cor, não somente nesse pais.
O Tropicália é um pais interessante e ainda misterioso, por sua complexidade. Cheio de contrastes, também pela natureza geográfica que torna seus habitantes estranhos, desconhecidos. Há regiões ocupadas mas isoladas devido a ignorância e ganância. Há regiões desabitadas porém intensamente exploradas, desordenadamente, pela incoerência e desrespeito a própria vida.
Tropicália é um pais cujo povo é místico, alegre, hospitaleiro, que sofre sorrindo(sem dentes) as consequências dos erros de poderosos, que confundem poder público com propriedade particular. Esta confusão é uma característica que se estende desde os tempos da Monarquia, quando a República ainda nem era esboçada.
Nesse pais tropical, a cidadania não é respeitada pelos detentores do poder. Lei, é uma palavra que não sai do papel, visto que a sociedade não tem amparo legal. A catarse coletiva é um fenômeno social natural no Tropicália, presente através do futebol e do carnaval. As agressões tornam-se cada vez mais constantes, diante das arbitrariedades que dominam o cidadão tropicaliano.
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