sexta-feira, 27 de março de 2020

O ÚLTIMO PRESIDENTE


Durante o período caracterizado como a ditadura militar no Brasil, a Imprensa não mantinha boa relação com os governos. Por se tratar de um regime fechado, os jornalistas não tinham a liberdade de circular em busca de informações para o público, devendo inclusive ser policiado nas notícias que deveriam passar. Os presidentes da época, os generais, eram avessos a entrevistas e somente se dirigiam aos brasileiros através de redes nacionais de televisão. Não havia a preocupação dos governos em dar qualquer satisfação ao seu povo sobre o andar da carruagem e nem quanto ao fato de estar agradando ou desagradando ao público. Afinal, naquele período, ninguém foi eleito para governar. Portanto, o poder foi tomado por força das circunstâncias políticas da época.
Quem viveu, viu que os generais presidentes do regime militar não se exibiam para o público preocupados com a simpatia mas sim voltados para o propósito de comandar uma nação inteira como se fossem seus subordinados diretos. Ao contrário dos governos eleitos pelo voto popular que dependem da satisfação do público.
Surge então o artista político, que precisa conquistar o seu povo, o que revela os grandes líderes. Por essa conotação é que se atribui ao bom governante aquele que se identifica com a "Arte de Governar". Porque o artista é considerado o que busca a perfeição em seu trabalho, sendo crítico de si mesmo e acaba alcançando a admiração da maioria do seu público.
O último presidente da Ditadura Militar, General João Figueiredo, surgiu com a missão mais aguardada pelo povo brasileiro naquele período, que era a de fechar o ciclo da linha dura do regime político governamental. Ao Presidente João Batista, os generais antecessores passaram não apenas o bastão mas, também, todas as chaves das portas da ditadura para que ele as abrissem e permitisse que a Democracia entrasse novamente no Brasil.
Ao contrário dos antecessores, o General João Figueiredo abriu as portas para a Imprensa, numa confirmação de que sem os meios de comunicação não há Democracia. Suas declarações nas entrevistas surpreendiam ao público com expressões que revelavam a despedida mesmo do regime. Agradáveis e desagradáveis, para uns grosseiras e desrespeitosas com o povo e para outros autênticas...
O último Presidente gostava de dizer o que pensava e da maneira mais simples na linguagem popular. Abriu a caixa do diálogo com o povo através da Imprensa, sem dizer coisa com coisa, numa demonstração de que era o fim do silêncio, qualquer besteira que dissesse era bem vinda.
Afinal, era o fim da mordaça e o renascimento do regime democrático.

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