segunda-feira, 19 de setembro de 2022

BREVE MEMÓRIA DE UM MIGRANTE

Precisamente no mês de setembro de 1972, há 50 anos, aquele garoto de 23 anos chegava em Lages na Serra Catarinense, numas 3 horas de uma madrugada, naquela simbólica rodoviária sob uma neblina londrina. Nada se via. Embarcou na antiga Rodoviária da cidade do Rio de Janeiro, na Praça Mauá, para uma viagem de 19 horas pela empresa de ônibus "Penha" com destino a cidade serrana. No Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais, onde trabalhava na Avenida Rio Branco 123 da cidade maravilhosa, os chefes ficaram surpresos com o pedido de demissão daquele jovem que era visto com incentivo a uma carreira promissora, possivelmente sendo aproveitado pela nova composição diretora que assumiria após a negociação de venda da instituição que estava em andamento. Apesar de chegar ao destino com um emprego definido, ao iniciar sua primeira grande experiência como migrante sabia que viveria uma aventura de adaptação climática e social. Sentia-se preparado para enfrentar as barreiras que encontaria porque sua decisão de mudança regional tinha por base a determinação na busca da realização de um sonho, que se resumia em estudar numa cidade mais tranquila e sossegada. Fato esse que só aconteceria unindo trabalho e estudos para alcançar uma independência profissional, que naquela época somente seria possível através das duas forças. No Brasil do Cinquentenário da Independência, em 1972, a juventude sonhava e realizava seus sonhos num clima de competição sadia, afinal era uma década de fantasia e romantismo. Sonhar era sinônimo de realizar os planos traçados. Através da arte, a independência econômica e social era cobrada com o vigor da juventude, sob o comando do regime militar, que ditava as regras. Nem sempre querer é poder, principalmente em se tratando do sistema governamental daquele período de nossa História, quando todo envolvimento cultural era monitorado exigindo um malabarismo intelectual astuto, navegando em "mares nunca dantes navegados". A experiência do primeiro emprego foi gratificante mas não prosperou pelo mesmo motivo que aquele garoto deixou o Rio de Janeiro, considerando que ao vencer a barreira do vestibular para a Universidade da Serra (UNIPLAC) a incompatibilidade de horário de trabalho com o estudo provocou uma decisão de opção. Ir em frente com os estudos como prioridade buscando uma atividade de trabalho compatível e assim continuar com as duas forças, porque uma dependia da outra. Como manter os estudos, sem trabalhar ?!... Após alguns obstáculos na atividade de trabalho durante o ano de 1973, umas janelas se abriram dando origem a grande porta de oportunidade no jornalismo, incialmente na Gazeta de Lages, através do amigo e proprietário Romário Shafhauze (desculpe não saber escrever corretamente o sobrenome) que juntos mantivemos em circulação por cerca de um ano o tablóide semanal. A partir daí as nuvens cinzentas foram clareando a nebulosa jornada daquele jovem sonhador em terras distantes. Porém, uma nuvem muito escura se aproximou de repente no clima do trabalho interferindo nos estudos e na sobrevivência. O amigo Romário vendeu o jornal e o novo proprietário não conseguiu manter o semanário em atividade. Passados alguns meses, o sol voltou a brilhar no ambiente profissional mediante oferta de trabalho por reconhecimento profissional de uns amigos que foram conhecendo melhor a qualidade daquele garoto. Surgiram então as vagas de Repórter da TV Coligadas e Jornal de Santa Catarina, além de Correspondente dos veículos de comunicação da Companhia Jornalística Caldas Junior, principalmente do Jornal Correio do Povo de Porto Alegre-RS. Antes de conluir a Faculdade, o clima de ajuste social já estava favorável, com a participação do jovem carioca na vida lageana integrado aos costumes e as tradições (gaúchas) que caracterizavam a cidade. Sua integração se consumou ao ser acolhido garinhosamente por uma família que o levou ao casamento, passando de um simples migrante a integrante da sociedade local. Ao concluir a Faculdade, foi necessário deixar a cidade pela falta de adaptção ao clima de baixíssima temperatura que o carioca não suportou. Mas seu vínculo com a Serra Catarinense está eternizado pelos laços familiares que o conquistou.

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