sexta-feira, 2 de março de 2018
ATRÁS DAS GRADES
Quanto mais globalizados ficamos, mais sem identidade nos tornamos. O poder econômico que domina os interesses políticos pouco se importa com o sacrifício daqueles que sucumbem na miséria dos conflitos sociais vigentes. Na disputa pelo poder aquisitivo, cada vez mais o atual fenômeno da qualidade total joga na rua da amargura profissionais altamente qualificados, fechando as portas para o trabalho e exercício da cidadania.
Ao olharmos os jornais, as manchetes estão empobrecidas pelos dramas dos conflitos reinantes. Os valores invertidos revelam que o
cidadão de bem vive submetido aos caprichos do mal, que se impõe de forma clara e poderosa, desafiando as autoridades que assistem impotentes ao extermínio de sua legião. Aqueles a quem devemos pedir segurança estão agora sob o domínio do medo na cidade maravilhosa e sua região metropolitana, porque sofrem de insegurança.
Recorrendo a nossa Constituição, lembramos que ela estabelece como dever do Estado a garantia da segurança pública, mas, também cabe a sociedade colaborar com a manutenção da tranquilidade pública. Quando um representante da lei é assassinado friamente numa ordem sucessiva, caracterizando um conflito definido, a sociedade vive sob ameaça constante, sem saber o que fazer diante diante da inversão de valores nitidamente configurados.
Não havendo mais policiamento suficiente para dar segurança a população, o cidadão passa a comportar-se o prisioneiro de sua própria lei. Seus impostos não pagam mais sua tranquilidade e de sua família, como é o exemplo dos comerciantes que trabalham atrás das grades. Esse fenômeno nas grandes cidades, faz parte de uma conjuntura gerada por falta de atitudes desencadeada ao longo de projetos administrativos anteriores, que tende a piorar caso não haja interceptação em tempo hábil.
Enquanto os criminosos festejam suas glórias, e até com perspectivas de empregos no mercado externo ao tráfico de drogas, pelas promessas de recuperação os jovens estudam e são licenciados para o trabalho nas inúmeras universidades e escolas de ensino médio, sem qualquer esperança de oportunidades...
O cidadão vai as urnas para obter resultados condizentes com a solução dos problemas básicos de sobrevivência humana em sua cidade. Busca no pleito eleitoral a conquista de seus direitos fundamentais, respeitados, para que possa, no mínimo, viver dignamente.
O policial tem família, luta por ela, envolve-se profissionalmente no mundo do crime, ficando marcado pra morrer. O poder econômico dos chamados "bandidos" está superando(já superou) o do cidadão que procura viver honestamente. Nessa estrutura invertida de valores, em que o Ter se sobrepõe ao Ser, o poderio econômico confunde-se com o potencial bélico, deixando a sociedade enfraquecida pela falta de recursos públicos, apesar do cidadão obrigar-se a conviver com a pressão de aumentos constantes dos tributos que lhe são impostos. Ao que transparece. temos que viver mesmo enjaulados para permitir que os bandidos "trabalhem" livremente e assim possamos tentar garantir a nossa segurança...
(Texto produzido no início da década de 90).
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